Esquecemos de ensinar nossos filhos a se divertir com o sexo.
A maioria das coberturas da mídia sobre a vida sexual dos jovens foca em encontros casuais, cultura vulgar, chamadas para sexo e amigos com benefícios. Você pode pensar que os jovens têm tudo resolvido, associando sexo com diversão desenfreada e autoindulgente. No entanto, apesar de décadas de pesquisa sobre suas vidas íntimas, assumimos que os primeiros anos de sexo consensual eram prazerosos para a maioria, mas pioravam progressivamente com o tempo. Esta suposição parecia explicar as altas taxas de disfunções sexuais relatadas por adultos. Estávamos errados.
Pesquisas mostram que os jovens (16 a 21 anos) têm taxas de problemas sexuais comparáveis às dos adultos. Isso não se resume apenas a aprender a controlar o tempo da ejaculação ou a alcançar o orgasmo. Suas vidas sexuais muitas vezes começam mal e mostram pouca melhora ao longo do tempo. Prática, experiência e experimentação ajudam apenas até certo ponto.
Este projeto começou após observar que muitas jovens mulheres se queixavam de dor devido a fissuras vulvares (essencialmente lacerações) durante a relação sexual. O cuidado padrão é oferecer lubrificante, mas a pesquisadora começou a perguntar: Você estava excitada? Este era o sexo que você queria? Elas olhavam com olhar vazio. Elas estavam tendo sexo sem interesse, excitação ou desejo. Este tipo de laceração aumenta o risco de DSTs, mas também destacou um problema mais profundo: o sexo era desejado, divertido e prazeroso?
O primeiro estudo revelou, e um estudo maior confirmou, que o baixo desejo e satisfação eram os problemas mais comuns entre os jovens homens, seguidos por problemas de ereção. Para as jovens mulheres, dificuldades para alcançar o orgasmo, baixa satisfação e dor eram os mais comuns.
Este não era um grupo seletivo. No geral, 79% dos jovens homens e 84% das jovens mulheres (16-21 anos) relataram um ou mais problemas persistentes e angustiantes na função sexual ao longo de um período de dois anos.
Pais focam no desastre
Apesar de suas vidas superexpostas nas redes sociais, os jovens de hoje começam a ter relações sexuais mais tarde e têm menos parceiros do que a geração de seus pais (e muitas vezes a de seus avós). Uma pesquisa recente descobriu que os jovens têm menos relações sexuais do que as gerações anteriores.
Os jovens estão sobrecarregados, superprotegidos e superdiagnosticados, mas também têm poucos recursos para lidar com os desafios sexuais. É assim que uma vida sexual ruim evolui.
Os pais se esforçam para falar com seus filhos sobre sexo, acreditando que transmitem suas mensagens. No entanto, os filhos geralmente relatam que os pais falham em comunicar sobre tópicos importantes para eles, como ciúmes, desgosto, desejo e falta de desejo. As mensagens dos pais geralmente enfatizam evitar, adiar e prevenir o sexo. Os jovens descartam essas conversas, especialmente à luz das representações da mídia de sexo como transformador e arrebatador.
No Brasil, uma menina de 14 anos ou menos dá à luz a cada 37 minutos. Em 2022, houve mais de 14.000 nascimentos nesse grupo etário, segundo o Ministério da Saúde. Isso representa uma taxa de 53 gestações para cada 1000 adolescentes, comparada a 41 mundialmente.
Alguns países, como os Países Baixos e a Suíça, oferecem uma educação sexual abrangente, resultando em taxas de gravidez na adolescência tão baixas quanto 0,29% para meninas de 15 a 19 anos. A taxa do Canadá é de 1,41%, mais alta do que muitos países europeus, mas consistentemente mais baixa do que nos Estados Unidos. Essas taxas refletem diferenças na socialização e educação dos jovens e indicam o quão bem fornecemos uma gama de informações e habilidades sexuais. Países mais progressistas reforçam a mensagem de que o sexo pode ser uma parte positiva de nossas vidas íntimas, nossa percepção de nós mesmos, nossas aventuras e conexões. Os jovens nesses países têm vidas sexuais mais saudáveis e felizes. Eles sabem como desfrutar do sexo enquanto previnem infecções e gravidez indesejada.
Pornografia: lições no exagero
Quando pais e educadores falham, e os colegas não têm credibilidade, para onde os jovens se voltam? Para a pornografia. Os jovens recorrem à pornografia para aprender como as coisas funcionam, mas o que aprendem muitas vezes não é útil. A pornografia fornece lições em performances exageradas, dominação e autoindulgência, distorcendo nossa compreensão do que é típico ou comum entre os pares.
Claro que os jovens recorrem à pornografia: é grátis, facilmente acessível e, na maioria das vezes, privada. Um jovem em nossas entrevistas disse: “Aprendi muito sobre o que vai aonde, todas as variedades da pornografia, mas é bastante intimidante. E, quero dizer, eles não parecem estar amando isso, realmente amando.”
Nossa pesquisa deixa claro como os jovens recebem poucas mensagens sobre como ter um sexo divertido, prazeroso e satisfatório. Eles podem parecer autoindulgentes, mas ninguém lhes disse: “O sexo deve ser divertido, agradável e uma forma de se conectar. Vamos falar sobre como tudo funciona.”
Sexo divertido como sexo seguro
Alguém te ensinou essas lições? Um amigo e colega pesquisador me contou que aprendeu como o sexo funcionava vendo as revistas pornográficas do pai. O único problema foi que em sua primeira relação sexual, ele não percebeu que havia movimento envolvido.
Sem uma comunicação positiva sobre sexualidade, e especificamente sobre como o sexo pode iluminar a vida e melhorar a saúde e o bem-estar, não há espaço para enfrentar novos desafios no campo sexual. Por exemplo, o relatório alarmante da Organização Mundial da Saúde sobre o aumento da gonorreia resistente a antibióticos parecerá mais um aviso sombrio de uma corrente interminável. Ninguém é consistentemente motivado por ameaças.
Devemos falar com os jovens sobre como ter um sexo divertido. Isso ajudará a reduzir as chances de que os jovens, enfrentando problemas sexuais agora, desenvolvam disfunções sexuais e tensões nos relacionamentos que afligem tantos adultos. Essas lições lhes fornecerão as informações e habilidades necessárias para se manterem seguros e buscarem soluções eficazes quando surgirem problemas. Melhor ainda, eles serão mais saudáveis e felizes agora e como adultos.